terça-feira, 29 de julho de 2014

O que fazer com o mal?

A: - Qual pode ser o bem que existe no mal? Ou o mal que existe no bem? Há essas possibilidades?


M: - A luta do homem entre o bem e o mal é muito antiga e revela a lógica dualista em que mergulhamos nossos conceitos. Nesta lógica o bem é o lado aceitável a que almejamos e o mal o lado rejeitável a que repudiamos. A questão é que esse mal que repudiamos externamente com a ideia de "isso não deveria existir", existe e não apenas no externo, mas internamente também, em níveis de consciência. A negação dessa realidade não faz com que ela desapareça. Essa é uma outra ilusão que gostaríamos de ter sob controle.



A: - Humm, isso é muito cansativo! Precisa ser assim quando a gente está procurando nosso próprio aprimoramento e desenvolvimento?


M: - Claro que não. Precisar não precisa, mas esse é o comportamento habitual do homem, travar batalhas entre seus aspectos duais, quando lhe falta a compreensão verdadeira. Seu cansaço vem do esforço obstinado de reforçar seu lado do bem, que cada vez fica mais rígido e menos espontâneo, enquanto do outro você rejeita e nega seus próprios sentimentos mesquinhos, infantis, ignorantes, ou seja tudo o que você define como seu lado do mal. Esse comportamento traz muito desgaste mesmo.





A: Como posso lidar com isso de outro jeito? Qual seria outra forma?


B: Gostei dessa pergunta. Efetivamente há muitas formas. Vou lhe sugerir um caminho: O primeiro passo é o reconhecimento do mal no eu. Esse passo solicita uma boa dose de humildade. Assumir para si mesmo, seus defeitos, fragilidades, dificuldades, e em seguida os sentimentos, emoções, pensamentos e ações que atentam contra sua dignidade ou a de outra pessoa. Lembre-se que você não está sozinho e que pode pedir ajuda.



A: Só isso? Mas e depois?


M: Isso é muito. Acredite, esse primeiro passo é um GRANDE passo. Às vezes, o pouco caso que você está fazendo pode ser uma armadilha para não o fazer com honestidade. Há muito trabalho nesse reconhecimento. Há determinados defeitos que não achamos que são defeitos, há dificuldades que menosprezamos e até temos orgulho de algumas das nossas imperfeições. Então a clareza e a compaixão aqui são fundamentais, para que haja uma abertura para a verdade, seja ela qual for. Continue a fazer perguntas para o que você ainda não conhece.





M: O segundo passo, querido A, também é processual, você vai aprender a aceitar suas imperfeições com todo o mal que elas geram e a ser responsável por elas. A princípio isso pode parecer assustador, mas é através desta verdade, que você irá reconhecer sua força e a liberdade para escolher diferente e fazer diferente. E então, a cada processo, cada passo a seu tempo, você vai começar a perceber que vai soltando mais e mais o apego a seu antigo padrão limitado, e entrando na etapa da transformação pessoal. Cada vez mais, você vai liberar amor, perdão e confiança. Siga em paz, até o próximo encontro.


Texto refletido a partir de leitura
 do livro: "Não temas o mal"