segunda-feira, 19 de maio de 2014

Reivindicando minha parte do tesouro - 4 e muito mais

Dia após dia, passei a observar a vida fora e dentro de mim. Fazia anotações no meu caderno e o mapa do tesouro ia tomando forma e significado. Eu já não me sentia pobre e isso era meio estranho, porque eu ainda não havia encontrado o tesouro. Eu continuava minha caminhada, experimentando os ensinamentos daqueles escritos, tentando compreender a dinâmica que rege o universo em toda a sua complexidade, respeitando e agradecendo. A facilidade com que me encontrei na jornada me fez acreditar que tudo aquilo que o Eu estava vivenciando poderia ser uma fantasia, criada para levá-lo a fugir "da dureza" da realidade.



Imagens do google

Meu mapa está sendo construído, passo a passo. Não sei onde vai dar, porque não sei o que é o fim. Meu ponto de partida é diário e se inicia a cada despertar, depois de mais uma noite de sono. O ponto de chegada é o próximo passo. O tesouro que eu pensava que existia, não sei se existe como o concebi, mas me sinto mais e mais rica, enquanto desenho meu mapa de acordo com os passos que escolho dar, me entregando à minha jornada de corpo e alma. Minha casa já não é tão pequena, não mudei de casa, mas parece que ocupo espaços antes ignorados. Minha cidade tem a importância que lhe cabe dentro do meu país, que reside neste lindo planeta que pertence a esse universo de proporção infinita. E, então, quando me pergunto e aquele algo a mais pelo que tanto anseio, onde está?



Imagens do google

Uma vez percebi uma nítida sensação de não querer chegar onde eu queria chegar para não viver o fim da minha jornada. Sabe aquilo que a gente conhece como auto sabotagem? Ficou clara para mim a ideia de "remar contra a maré", pois se chegasse ao fim, tudo acabaria, inclusive o sentido de tudo o que foi ou de tudo o que é. Quanto engano! O fim de um ciclo marca o inicio de um outro ciclo. O que seria esse anseio por mais? A Luz de um Farol me sinaliza que a cada dia há um novo passo a ser dado. Sim, quero mais! Quero muito mais! 










sexta-feira, 16 de maio de 2014

Reivindicando minha parte do tesouro - 3

Chuva, muita chuva. Cheguei ensopada no trabalho! Eu gosto muito do ambiente em que trabalho. Fui ao toalete, enxugar-me um pouco. Eu iria encarar o segundo passo da minha jornada. Precisava estar preparada para isso e uma pessoa descabelada, molhada de chuva, com aparência de um pintinho saído do ovo não inspirava a ideia de alguém preparado. O Eu estava me parecendo muito complexo, eu estava insegura a respeito do meu próximo passo. Acho que minha aparência revelava toda a minha vulnerabilidade e talvez por isso eu quisesse me desfazer urgentemente dela. É, também estava frio, é claro. E sim, também seria um renascimento para mim.





É isso! Eu um observador do Eu. Esse era o segundo passo! Lembrei de um trecho da música de Milton Nascimento, um cantor maravilhoso do meu país: "Por tanto amor. Por tanta emoção. A vida me fez assim. Doce ou atroz. Manso ou feroz. Eu caçador de mim." A ideia de caçador não me agrada, parece que preciso ser um algoz dos meus instintos. Gosto da ideia de que o domínio dos nossos instintos pode acontecer de outras formas. Nos escritos da irmã do meu amigo, há um Guia e ele se refere à importância de um observador no caminho interior. Ser um observador do Eu me pareceu uma chave significativa. Quem observa está atento a encontrar detalhes antes despercebidos, a conhecer, a focar seus sentidos no objeto da observação. Essa me pareceu uma boa ideia. Será que o Guia dos escritos poderia me guiar na busca ao tesouro?



Voltei às minhas atividades, estava atenta. O Eu é capaz de sentir muitas coisas ao mesmo tempo. Um colega deu risada do meu estado, um outro ignorou minha chegada ao setor, uma outra começou a emitir exclamações de pesar, com um certo tom maternal. Fui exercitando a observação das reações do Eu aos estímulos recebidos. Aquele dia seria longo.






quinta-feira, 15 de maio de 2014

Reivindicando minha parte do tesouro - 2

Agora estava iniciada, tudo bem, mas e daí? De onde viriam minhas orientações? Quem seria meu mestre? As pessoas que iniciam uma jornada precisam de um guia... quem seria o meu? Onde encontrá-lo? Como procurá-lo? Eram muitas perguntas, não havia espaço para respostas, tamanho era o volume de perguntas. Tamanho ou volume? Ah! Cansei! Havia uma praça na minha cidade, toda cidadezinha em meu país tem uma praça. E resolvi fazer o que costumava me acalmar, fui caminhar na praça. 



Imagens selecionadas no google 

Sabe aquele momento em que você quer ficar sozinha, mas não dá, foi o que aconteceu. Seu João passou e falou "- Oi fia, como está seu pai?"; depois foi a vez de Marquinhos, filho de Marileide, com um álbum da copa em uma mão e a outra cheia de figurinhas, doidinho para mostrar a alguém como ele era esperto e quantas figurinhas "da hora" ele ganhou. Alguns metros adiante Dani me gritou e disse: "- Ei amiga, vai ficar aí na praça, vou terminar minha tarefa e já volto para falar contigo." E tudo aquilo começou a me irritar sobremaneira. Será que as pessoas não percebiam que eu queria ficar só?! 



Imagens selecionadas no google 


Eu estava num lugar público, onde tudo acontecia e todos se encontravam, um lugar em que a vida social da minha cidade era ativa, por que mesmo escolhi esse lugar para ficar só?! E mais, eu ainda queria que os outros percebessem a minha necessidade de solidão?! Eu não tinha noção de que estava tão "sem noção"! Cadê meu guia? Será que vou mesmo encontrar o tesouro? Resolvi dar uma corridinha na praça, conversar um pouco com Seu João e olhar o álbum do Marquinhos, até a chegada da Dani.



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Ainda não havia encontrado respostas, fiquei com as perguntas. Ainda não tinha um guia, mas estava confiante de que o encontraria. Fui para casa e resolvi desenhar meu mapa. Não que eu soubesse as coordenadas, o que iria encontrar ou que caminhos iria percorrer. Peguei papel, lápis e recortes de revista. Um mapa sendo construído ao passo da jornada. O ponto de partida o Eu. O segundo passo, o passo ainda não dado. A vida seguia seu curso, eu continuava com minha rotina, cuidando da casa, da família, trabalhando, exercitando atividades físicas, curtindo momentos de lazer com a família e os amigos, estudando. Viver tudo isso era muito bom, mas ainda assim eu era pobre, o que era esse mais que me faltava, o que era esse tesouro que ocupava meus pensamentos e me motivava a prosseguir na jornada?

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quarta-feira, 14 de maio de 2014

Reivindicando minha parte do tesouro - 1

Morava numa casinha, numa rua estreita de um bairro pequeno, numa cidadezinha de um país chamado Brasil. Um dia decidi que não queria me contentar com pouco. Comecei a procurar um tesouro que ouvi dizer existir para todos. Eram muitas histórias. Algumas diziam que o tesouro era uma lenda criada para que a gente continuasse feliz naquela vidinha, acreditando na utopia de uma busca sem fim. Outros diziam que o tesouro estava disponível apenas para os fortes. Outros não acreditavam nem em tesouro, nem em lendas. Outros achavam que a existência do tesouro era real em outros lugares, não ali. E eu, não sabia em qual das histórias acreditar. Só sabia que do jeito que estava, não era bom para mim. E se existia um tesouro eu estava decidida a encontrá-lo e tomar posse da parte que me cabia. Mas então, por onde começar?




Parece estranho, mas o fato de ter tomado essa decisão, parecia já conter ali também algum direcionamento, pois novas circunstâncias acontecerem para me mostrar possíveis caminhos. Numa manhã de primavera, enquanto caminhava no jardim de um querido amigo, sua irmã, começou a falar do quanto estava intrigada com uma nova leitura a respeito de uma jornada interior. Eu não sei explicar o que aconteceu, mas eu tive certeza que ali estava o início da minha busca.





O ponto de partida. O Eu. Percebi que a vida que eu conhecia naquela cidadezinha havia determinado quem eu era, ou melhor quem eu pensava que era. Percebi que muito do que eu queria ser estava de acordo com o que meus conterrâneos, amigos, familiares e outros entes, queriam que eu fosse. Como eu poderia pertencer àquele lugar se eu não falasse a mesma língua, não compartilhasse os mesmos interesses, crenças e pensamentos?! Uma prisão! Estava prisioneira em minha própria casa. Estava fraca e muito pobre. E a história do tesouro? Comecei a entender os que desacreditavam do tesouro. Não só os entendi, me identifiquei com eles. Esmoreci.





Entrei em casa e me recolhi ao meu quarto, deixando apenas uma fresta da janela aberta. Uma lufada de ar entrou pela fresta. Respirei o ar fresco. Como era bom respirar aquele frescor. O toque em minha pele, o cheiro que ele trazia, como estava bom respirar. Meu corpo foi saindo daquele torpor. A consciência expandindo a circulação do ar dentro das minhas células. Lembrei que eu não era a pobreza, nem o desânimo. Eu era mais que isso. Eu estava pobre e desanimada, mas eu era quem queria mais da vida. E junto com o ar que saia, eu também deixava ir o que não me alimentava, o que não me servia, o que era excesso dentro de mim. Que alívio! Sem que eu me desse conta, a jornada havia começado. Qual seria o meu próximo passo?


Imagens capturadas no google